Os novos projetos que estão a mudar o Porto

Parece uma história das arábias, mas tudo aconteceu na Foz, na zona nobre do Porto, com protagonistas americanos. Um casal multimilionário veio passar uns dias ao Porto, ficou hospedado no hotel Vila Foz, que deu nova vida à casa da família do presidente da Câmara, Rui Moreira, e encantou-se de tal forma com a envolvente que decidiu comprar a casa ao lado. O valor do negócio, fechado rapidamente, no final do ano passado, não foi divulgado, mas João Magalhães, presidente da Predibisa admite que “envolveu muitos milhões”, até porque estava em causa um condomínio de luxo para 15 a 18 famílias, mesmo em frente ao mar, à volta de um palacete do século XIX da família Jervell (grupo Nors — ex-Auto Sueco) que prometia fazer nascer “o empreendimento mais luxuoso da cidade” um investimento de €18 milhões da Quantico Albatross.

“Cinquenta por cento do projeto já estava comprometido, mas tudo se resolveu”, adianta João Magalhães que vê neste negócio mais do que uma história curiosa. “Estamos a falar de um caso com contornos especiais, mas que confirma a capacidade que o Porto continua a ter para atrair investidores e cidadãos do mundo, como este casal que gosta muito de arte, gosta de vir a Serralves e, agora, passa a ter uma casa para viver na cidade um mês por ano, ou talvez um pouco mais”, comenta.

Juntando os principais projetos residenciais em curso na cidade, os promotores imobiliários contabilizam, facilmente, investimentos superiores a €500 milhões. A pandemia deixou as suas marcas, admitem ao Expresso, mas o mercado continua a funcionar e a oferta vai-se diversificando para cruzar toda a cidade, da Foz, que continua a ter o metro quadrado mais caro da Invicta (€4,7 mil em média) a Campanhã, no extremo oposto (€2,7 mil). E entre os promotores mantêm-se presenças nacionais, mas há cada vez mais estrangeiros, suíços, chineses, israelitas, franceses, belgas, ingleses, espanhóis.

Os preços ressentem-se da pandemia, sim, admite Ricardo Guimarães, diretor da Confidencial Imobiliário, constatando uma quebra de 8,2% no preço médio da habitação no conjunto das Áreas de Reabilitação Urbana da Baixa e Centro Histórico do Porto no segundo semestre de 2020, face aos seis meses anteriores, e de 4,8% face ao semestre homólogo. Mas há, ao mesmo tempo, uma subida de 1,2% no preço de venda das casas do Porto nos últimos três meses de 2020.

“Temos o Centro Histórico do Porto a ser mais afetado, por estar muito orientado para a procura turística e alojamento local, mas temos outras zonas com uma nova dinâmica habitacional e vemos a oferta a espalhar-se mais pela cidade”, comenta. Mais: “O que caiu no Porto foi a taxa de valorização. O crescimento homólogo dos preços em 2020 rondou os 10%, mas a taxa, um ano antes, era de 20%”, explica.

Mesmo assim, há novas propostas a avançar no centro da Invicta, do PS70 ao Living Aliados ou ao Paraíso 49 (ver caixa ao lado), mas também ao Clérigos 82, um projeto de arquitetura Menos é Mais, com 16 apartamentos, 10 dos quais ainda disponíveis, a €6800/m2, sem esquecer o Palacete de Cedofeita, um conjunto de oito moradias e cinco apartamentos com um preço médio de €5 mil/m2, ou o Emporium, na Rua Sá da Bandeira, no edifício que foi da casa Cunha, com 23 apartamentos a €5 mil/m2 vendidos em 80% em seis meses.

DOIS GRANDES PROJETOS

Mas o grande projeto da baixa é o Bonjardim, promovido no horizonte de três anos pela Avenue para todo o quarteirão da Casa Forte/Praça D. João I, rodeado pela Rua do Bonjardim, Rua Formosa e Rua Sá da Bandeira, num investimento superior a €80 milhões que conjuga habitação (93 apartamentos T0 a T4), retalho e uma unidade hoteleira do Student Hotel para receber estudantes durante o ano letivo e turistas no verão.

O outro grande projeto do Porto é o Antas Atrium, em cima do antigo estádio do FC Porto. É da Quantico Albatross, com assinatura do gabinete de arquitetos OODA, vai começar com 190 apartamentos e um preço médio de €3500/ m2 na primeira fase, mas somará mil habitações em seis anos, num investimento projetado de €240 milhões.

“Um investidor internacional acaba de negociar 10 frações no empreendimento Miradouro, para arrendar”, diz João Magalhães

A pensar na classe média, também nas Antas, o empreendimento Miradouro (ver caixa) prova que o mercado internacional não está indiferente a este segmento orientado para as famílias portuguesas. “Um investidor internacional acaba de negociar dez frações no empreendimento, junto à Praça Velásquez, para arrendar”, sublinha João Magalhães, atento ao que se vai passando num sector onde “o luxo continua a atrair atenções e candidatos a vistos Gold”, diz, mas o arrendamento ganha peso nas intenções de investimento.

No caso do ParkAvenue, na margem do Parque da Cidade do Porto, a ACA vendeu quase todo o empreendimento em seis meses, incluindo a cobertura que ocupa o último piso, com 420 m2 de área coberta e 360 m2 de área descoberta por mais de €4 milhões.

E na Foz, na rua Diogo Botelho, a Miramar Tower, da Burgo Sublime, do grupo macaense KNJ de Kevin Ho, acionista da Global Média (“JN”, “DN”, “O Jogo” e TSF) já tem 90% da oferta reservada apesar do início da construção só estar previsto para junho. Aqui, o projeto da OODA apresenta 21 apartamentos distribuídos por 14 pisos, oito dos quais têm apenas uma casa por andar. Um T4 pode custar €2 milhões, mas a oferta começa nos €450 mil, combinando amplos espaços exteriores privados e uma vista alargada, da Ponte da Arrábida ao Atlântico.

A MODA DO CONDOMÍNIO FECHADO

Uma análise rápida pelo que está a ser feito no segmento residencial no Porto, mostra que há uma tendência clara a apontar para os condomínios fechados.

“Temos o tema da segurança na ordem do dia, em linha com o que se passa à escala global, mas sem uma ligação direta ao segmento do luxo”, destaca João Magalhães. No pacote da oferta é, também, evidente um alinhamento no sentido da diferenciação das propostas de acordo com o novo conceito alinhando para responder ao confinamento que propõe “sair à rua sem sair de casa”, combinando trunfos como piscinas, espaços de convívio, ginásios, salas paras as crianças brincarem e áreas verdes.

É o caso do VPorto, mais um condomínio fechado ao fundo da rua D. Pedro V, com vista sobre o Douro, da Avenue.

O projeto do ateliê de Arnaldo Brito contempla 98 frações, com 82 apartamentos T1 a T4 e 16 vilas com entrada direta. Concebido com um condomínio fechado, com parque infantil, ginásio e jardins, o empreendimento ainda não tem preços definidos porque só será lançado em junho, mas os apartamentos mais pequenos vão rondar os €200 mil.

COMO VAI O MERCADO

1,2%

Foi a subida do preço das casas no Porto no 4º trimestre de 2020, face ao 3º. A valorização homóloga ficou em 10,3%

4,7

mil euros é o preço médio do metro quadrado em Aldoar, Foz do Douro e Nevogilde, a zona mais cara da cidade

€18

milhões foi o investimento no Paço de Montevideu que um milionário americano assumiu para ter casa própria no Porto

UMA OFERTA VARIADA

Montevideu Edition

Três frações com 1100 m2, junto ao Castelo do Queijo (Foz), lançadas por um promotor particular. As casas serão comercializadas a mais de €1 milhão

Porto Douro

Um condomínio fechado com 60 frações T1 a T3, dos espanhóis da Via Celere, em Lordelo. Há jardins privados, terraços, ginásio e sala para crianças. As casas custam entre €180 mil e €375 mil. Estará concluído no verão e 60% estão vendidos

Dom Pedro V

Um condomínio fechado, assinado pelo arquiteto Adriano Pimenta, com guest house, jardins e 24 frações T1 a T4, entre os €328 mil e os €702 mil, em Massarelos. Promovido pelos chineses da Qualive, para entregar em 2023, está comercializado em 80%

Soul

Em Bessa Leite, junto à Avenida da Boavista, junta T2 a T4 a partir de €300 mil. O promotor é a Ferreira da Costa. Ficará concluído em 2022 e “está a vender bem”

PS70

Do promotor com o mesmo nome, nasceu na Rua de Ceuta (centro do Porto) com 25 apartamentos T0 a T2 a pensar no segmento residencial de curto prazo e em quem quer viver na Baixa. As casas, a partir de €145 mil, devem estar prontas no 2º trimestre

Living Aliados

Da reabilitação de um edifício histórico junto aos Aliados nascem 15 apartamentos T1 e T2, com varandas sobre a sala de visitas da cidade e assinatura do arquiteto António Leitão Barbosa. O metro quadrado deste empreendimento da Quantico Albatross ronda os €6 mil. O preço das casas começa em €370 mil

Tawni

Nas Antas, junto ao antigo estádio do FC Porto, há 180 apartamentos com um preço médio por metro quadrado de €3250 e assinatura do gabinete António Barbosa, que também fez o edifício da Vodafone, na Boavista. Os promotores são a Norfin e a White Star

Miradouro

Ainda nas Antas, mas junto à Praça Velasquez, o arquiteto Carlos Castanheira desenhou para os belgas da Promiris dois edifícios, num total de 50 frações, a pensar em famílias da classe média alta. O preço por metro quadrado ronda os €3 mil e as casas ficarão prontas para o ano, a partir dos €285 mil

Paraíso 49

No centro do Porto, este projeto do promotor israelita Taga Urbanic combina tipologias T1 a T3 com um preço médio de €4290/m2. Dos 18 apartamentos, já só 6 estão disponíveis

Green Stone

O grupo Violas Ferreira e o fundo Bond Stone juntaram-se ao ateliê de José Carlos Cruz neste projeto de 36 frações em Nevogilde, que inclui casas com jardins e elevadores privados, entre €640 mil e €1,8 milhões. A conclusão será em 2023.

Fonte: Expresso