30.000 despedimentos, uma quebra de 1,2% do PIB é o custo estimado de um hard ‘Brexit’ para Portugal. Mas não é o caso mais grave na União Europeia.
A economia portuguesa não vive numa redoma face ao Reino Unido, ora governado por Boris Johnson que, se o conseguir, quer mesmo cumprir a palavra de sair da União Europeia no final do próximo mês, com toda a probabilidade, à força. Um hard ‘Brexit’ — a tal saída sem acordo com os restantes 27 parceiros europeus — tem um custo direto de 1,2% do Produto Interno Bruto português e pode representar o despedimento de 30.000 trabalhadores, sobretudo em seis sectores industriais mais afetados, as tecnologias da informação, os têxteis e vestuário, e o automóvel. A fatura global que a saída do nosso atual quarto cliente de exportações de produtos (depois da Espanha, França e Alemanha) e primeiro de serviços nos vai trazer foi avaliada por um académico belga, da Universidade de Lovaina. Hylke Vandenbussche publicou recentemente o estudo, realizado por encomenda do departamento de Negócios Estrangeiros do governo da Flandres para apurar a fatura que a Bélgica, no seu conjunto, vai pagar, muito superior à nossa — uma quebra de 2,4% no PIB e mais de 40.000 despedimentos —, mas elaborou o estudo comparativo à escala dos 27 em termos de impacto no PIB e no emprego (ver gráfico). O professor belga usou um modelo que privilegia as cadeias globais de fornecedores em que se inserem as economias europeias. O que lhe permitiu avaliar não só efeitos bilaterais como por via de terceiros países. Os que menos vão sofrer são a Grécia, a Croácia e a nossa vizinha Espanha. Na linha da frente do choque vão estar Irlanda, Malta e Holanda.
Um estudo mais em profundidade sobre o impacto na indústria exportadora portuguesa foi divulgado no final do ano passado pela CIP, a Confederação Empresarial de Portugal. É um trabalho exaustivo que serve de guião aos industriais e exportadores portugueses. A confederação patronal avisa que as reduções potenciais de exportações para clientes britânicos podem variar entre 1,1% e 4,5% do volume atual. Há 17 fileiras de produtos que têm um risco mais elevado ou médio (ver tabela). E quatro regiões do Norte vão estar na linha de maior impacto — Alto Minho, Cávado, Ave e Tâmega e Sousa. Aos cofres do Estado, a saída à força pode significar uma redução nas remessas de emigrantes entre 0,8% e 3,2%. Sendo o quarto maior investidor direto em Portugal, tais fluxos de capital podem cair entre 0,5% e 1,9%.
Fonte: Expresso