Projeto alia produção agrícola e turismo de natureza.
Ilha de Lisboa é o nome do projeto de agroturismo de luxo que está a ser desenvolvido para o mouchão do Lombo do Tejo, uma das três ilhotas do estuário do rio Tejo. Situado em frente a Alverca, o projeto insere-se numa propriedade com uma área de cerca de 900 hectares, o equivalente a outros tantos campos de futebol.
“A sustentabilidade ambiental de todo o projeto, em termos de recursos, saneamento e energia, é a principal vertente do empreendimento, que combina turismo de natureza com produção agrícola, num segmento de luxo”, afirma ao Expresso Sidik Latif, um emigrante português que regressa a Portugal após 30 anos de experiência internacional na hotelaria.
“O total de investimento previsto para a primeira fase é de €35 milhões”, montante que acresce aos €24 milhões despendidos na compra do mouchão, em 2018. Na altura, Sidik Latif vendeu dois hotéis no Brasil para ficar com 74%, sendo a restante área propriedade de dois sócios. A gestão do empreendimento e o seu desenvolvimento receberam já o interesse do Six Senses, o grupo tailandês de hotelaria de alto luxo recentemente comprado pelo gigante norte-americano InterContinental.
“O projeto de arquitetura ainda não foi adjudicado, mas já recebemos manifestações de interesse de arquitetos internacionais de renome, como Philippe Starck”, acrescenta o empresário, que divide a sua vida entre o Reino Unido e o mouchão do Lombo do Tejo.

FOTO D.R.
A primeira fase prevê o aproveitamento de parte do edificado existente para a criação de uma unidade hoteleira com 60 a 70 quartos e um Spa, “que será um dos maiores da Six Senses na Europa”. Inclui ainda outros equipamentos relacionados com o well-being (bem-estar) e os desportos. Neste campo surgem a equitação, a vela, o kitesurf, a observação de aves, entre outros.
Além da construção e das infraestruturas, esta fase inclui ainda o reforço do sistema de drenagem, para proteger o dique — os mouchões funcionam com um sistema semelhante ao utilizado nos polders da Holanda, pois parte da sua área fica inundada na preia-mar.
Para uma segunda fase está em estudo a construção de 60 a 70 villas em madeira, com tipologias entre T1 e T3 — entre os 250 m2 e os 450 m2. “Ainda não temos estimativa para o custo das casas de madeira, tudo depende das licenças”, acrescenta.
“O Ilha de Lisboa vai ser financiado, em parte, com capitais próprios. Estamos a negociar com o fundo soberano do Dubai, com um fundo privado de Inglaterra e com um grupo de investidores brasileiros”, adianta. Quanto ao impacto na economia da região, o plano de negócio estima que a unidade de agroturismo crie 250 postos de trabalho diretos e cerca de 500 indiretos.

O “NOVO LUXO” NA HOTELARIA
“No cenário pós-pandemia, o novo luxo é dado pelas experiências naturais, saudáveis e exclusivas. Produção de alimentos, interação com a natureza, bem-estar e exercício físico passam a ser parte do quotidiano”, diz o empresário.
No campo da agricultura, Sidik Latif salienta o desenvolvimento da vitivinicultura orgânica, favorecida pelas condições do solo e o isolamento da ilha. O mesmo acontece com o olival — sem que esteja previsto a construção de um lagar. “Prevê-se também a retoma do cultivo de arroz (10 hectares) e um aumento da forragem para a criação de gado (cavalos e vacas), entre outras atividades. Tudo para autoconsumo”, afirma. Com uma lagoa principal de 30 ha, está em estudo a piscicultura, incluindo a possibilidade do cultivo de ostras.
A vertente agrícola e de criação de gado já existe e é característica da ocupação tradicional dos mouchões conhecida há séculos. O mouchão do Lombo do Tejo foi propriedade de D. Manuel I (século XVI), tendo transitado para o conde da Covilhã em finais do século XIX. Depois do 25 de Abril de 1974 conheceu vários donos.
UMA ILHA DE CIDADE
O empresário lembra que o mouchão do Lombo do Tejo é uma “ilha de cidade” e que tem como grande trunfo a proximidade ao aeroporto de Lisboa e ao futuro do Montijo, bem como à Ponte Vasco da Gama, por exemplo.
A primeira fase prevê o aproveitamento de parte do edificado existente para a criação de uma unidade hoteleira com 60 a 70 quartos
“Pretendemos ter um impacto ambiental nulo, e para isso entregámos o estudo de sustentabilidade à britânica XC02, uma empresa multidisciplinar especialista em projetos com baixas emissões de carbono”, conta Latif. Em relação às construções, que serão sobrelevadas por causa da água, serão usados materiais duradouros, como a madeira tratada, e com baixa pegada ecológica.
Quanto à eficiência energética, toda a eletricidade consumida na ilha terá origem numa central fotovoltaica com uma área de 10 hectares. Ao nível do transporte, só transitarão na ilha automóveis elétricos e serão privilegiados os barcos a energia solar. O tratamento de águas residuais será feito por uma ETAR, através de plantas, e serão aplicados também mecanismos de aproveitamento destas águas, nomeadamente para as descargas das sanitas.
PROJETO ESTÁ EM ANÁLISE
O plano global de intervenção do Ilha de Lisboa está concluído e enquadra-se no Plano Diretor Municipal (PDM) da Câmara Municipal de Vila Franca de Xira. A autarquia vê o projeto com bons olhos, como elemento não só de preservação e de manutenção do mouchão mas também de desenvolvimento económico e social da região. A Câmara já regularizou as construções existentes na ilha (anteriores a 1951, com uma área de cerca de cinco mil metros quadrados) e deu também parecer favorável à alteração de uso dos edifícios, para a criação de uma unidade de turismo de natureza com uma área de 27 mil metros quadrados. “É o ponto de partida do processo”, disse ao Expresso o presidente da autarquia. “O plano global do que se pretende realizar em termos de agroturismo, vinha e produção de gado está concluído. Está em análise pela Câmara e será remetido para as entidades competentes”, acrescentou Alberto Mesquita. E lembra que na última década têm aparecido propostas de agroturismo para os três mouchões do Tejo — Lombo do Tejo, Alhandra e Santa iria —, mas que não têm evoluído por não obterem autorização das entidades competentes”, afirma Alberto Mesquita. “O projeto Ilha de Lisboa tem tudo para dar certo, no nosso entender. Espero que os Ministérios da Economia e do Ambiente deem o seu apoio”, acrescenta.
“Tem que existir uma estratégia que preserve os nossos mouchões e que o Estado esteja disponível para que se encontrem soluções ambientalmente equilibradas que permitam a sua salvaguarda.” O autarca dá como principal exemplo a situação de abandono do mouchão da Póvoa — o maior dos três —, que tem um rombo há anos e que corre o risco de desaparecer se nada for feito.
“A APA — Agência Portuguesa do Ambiente encontra-se ainda a apreciar o processo referenciado, no estrito âmbito das suas competências”, disse fonte oficial.
Fonte: Expresso
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